quinta-feira, 4 de abril de 2013

"A psicoterapia e Eu " (por paciente)

Deixo-vos um testemunho na primeira pessoa, de uma paciente que aceitou este desafio após um processo terapêutico.

A PSICOTERAPIA E EU…*

Foi-me colocado o desafio de falar um pouco do que foi o processo da psicoterapia para a
minha pessoa.
De modo a poder enquadrar todo o processo pelo qual passei, posso começar por descrever o
que me levou a procurar este tipo de acompanhamento.
Estava a passar por uma fase de mau estar comigo própria, pois tinha passado por um
relacionamento muito complicado e sentia um misto de emoções, tais como tristeza, raiva,
desorientação, irritação, choro, tudo e mais alguma coisa. Sempre neguei precisar de ajuda,
até porque me fui convencendo que era uma questão de tempo até passar a fase pela qual
estava a passar.
Isolei-me em casa afastada dos amigos e família, achando que o problema se resolveria por si
só. A motivação era nula para o que quer que fosse, desde fazer uma sandes para comer, até
para atender uma chamada de um amigo ou família. Os objectivos para a vida eram nenhuns e
sentia-me num beco sem saída, aguardando que a solução me caísse do céu, pois já tinha
pensado em todas as soluções e mais alguma mas não havia meio de me mexer, pois a apatia e
letargia para a vida já estavam instaladas.
Sempre achei que tinha tudo sob controlo até porque embrenhei-me na leitura de livros de
auto-ajuda e outros que tais, que traziam pouco valor acrescentado, se não direi mesmo,
nenhum! Tanto que não ajudaram que cheguei ao ponto de não conseguir controlar os meus
sentimentos e pensamentos caindo num choro compulsivo e então aí achar que já estava a
ficar com uma depressão, a qual tinha de ser acompanhada por um psiquiatra.
Reconheço hoje que, não vale a pena dizerem-nos que precisamos de procurar ajuda de um
profissional, pois só nós é que decidimos quando a procurar.
O psiquiatra disse que o meu caso não era do foro da psiquiatria, mas sim da psicologia, pelo
que me aconselhou a psicoterapia.
E assim começou esta jornada da psicoterapia na minha vida.
As primeiras sessões de psicoterapia com a psicóloga foram dolorosas ao ponto de achar que
estava a retroceder em vez de avançar, mas tudo isso faz parte deste processo. Estas sessões
têm por vezes uma conotação penosa, pois vão à nossa essência e tocam o nosso ser mais
recôndito, ao ponto de o choro voltar a ser o nosso companheiro durante as consultas.
Desengane-se desde já, quem pense que o psicólogo nos dará “a solução” para o nosso
problema, pois não é essa a abordagem. O psicólogo somente nos ajuda a descobrir “a
solução”… e essa só se encontra dentro de nós e em mais lado nenhum! O psicólogo só nos
ajuda a alcançá-la.
As sessões ajudaram-me a ser um pouco mais verdadeira comigo própria, a não inventar
desculpas, a saber analisar-me e a não "tapar o sol com a peneira" (algo que era muito
frequente, inconsciente e compulsivo em mim).
Aos poucos comecei a compartimentar ideias, situações, emoções e sentimentos e a resolver
dentro de mim os problemas. Confesso que nem sei muito bem como isso se processa,
somente fui seguindo indicações da psicóloga até que chega o dia em que pura e
simplesmente dá-se o “clic” e dei comigo a agir por mim própria!
Aos poucos a apatia desaparece, a motivação surge e o isolamento deixa de fazer sentido,
enquanto as respostas começam a surgir por nós e não pelos outros.
O “nosso eu” durante este processo é tão trabalhado, que aprendemos a gerir as nossas
emoções ao ponto de as saber-mos avaliar e controlar de uma forma um pouco mais eficaz.
Sem dúvida que a psicoterapia pode ser um apoio importante no processo de crescimento,
desenvolvimento e evolução pessoal, pois o paciente é confrontado com os seus medos, as
suas ideias, os sentimentos, os pontos de vista, os valores, as atitudes e tantas outras coisas,
de modo a encontrar o seu “verdadeiro eu” dentro de um padrão de funcionamento mental.
Basicamente de início a pessoa começa por negar muita coisa, depois a aceitar o que é como
pessoa e a aceitar o que a rodeia, e posteriormente é levada a percorrer o seu caminho pela
vida de uma forma psicologicamente mais equilibrada.
Em suma, só me resta dizer que quanto mais tempo levarmos a achar que conseguimos
sozinhos e sem ajuda de um psicoterapeuta/psicólogo, chegar à resolução da nossa tormenta
interior e à descoberta do “nosso eu” ou da “nossa solução”, mais tempo perdemos para a
vivência e o aproveitamento da vida com tudo o que de bom ela ainda nos possa dar.
Vi na psicoterapia o caminho a percorrer para encontrar de novo o alento, a esperança, a
qualidade de vida, o gosto de viver e de estar, os quais andavam sumidos em mim e foram
encontrados por mim, com a ajuda do psicólogo.

Paciente, sexo feminino, 37 anos
 
* Este testemunho é fruto da reflexão da própria paciente, publicado com a sua autorização e com a garantia de anonimato e confidencialidade. Não foi realizada qualquer alteração ao documento que nos disponibilizou.

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